Wednesday, September 28, 2016


ONDINAS
(Luz... Porto)




Hoje levei mamãe para passear. Na praia, claro. Ela adora. Como o dia estava chuvoso e o CTI é muito sombrio, pedi ajuda a vários anjinhos. Eles afastaram as nuvens, o sol brilhou. Pedi uma mãozinha. Mamãe gostava de levar pedras e conchas para casa. Com as conchas, ela decorava alguns canteiros. As pedras enfeitavam a gruta de Nossa Senhora de Lourdes que, com muito zelo, ela arrumara em uma parte de seu armário.
Levamos um baldinho, meu baldinho de praia, esquecido em um sótão ou no porão. Era azul e a pazinha amarela. Fomos catando as conchas mais bonitas. Ouvimos as cantigas do mar naquelas conchas espiraladas que remetem a cornucópias.
Foi nossa primeira ida à praia só nos duas. Eu, criança, ela, a mãe não tão jovem para a época. Ajudou-me a construir castelos que as ondas desfaziam e ensinou-me a não chorar por eles. Poderia fazê-los mais distantes, mas não haveria o cheiro marítimo nem a beleza do mar em seus azuis que chegam a cinza.
Não sei nadar. Nunca aprendi. Mamãe, criatura aquática, exímia nadadora, tomou-me pelas mãos e fomos caminhando, passo a passo, rostos contra a brisa, na direção do mar. Adentramos mais e mais. Meu tímpano perfurado não chiava. Sereias nos abraçavam. Da areia, pessoas gritavam para que parássemos. Não era o Mar Vermelho, mas as águas se abriram e mergulhamos felizes em suas profundezas. Mãe e filha para sempre....

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