Wednesday, December 21, 2005


DESAPONTAMENTO
(Luz... Porto)
"A minha alma partiu-se como um vaso vazio".
Não, Álvaro, tua alma talvez tenha outrora composto um vaso.
A minha nunca o fez.
Já nasci com a alama torta, fragmentada,
Espatifada em milhares de cacos disformes
Que tento, em vão, unir num quebra-cabeças cósmico.
Mas sempre me faltam pedaços...
Pedaços que foram reduzidos a pó
Ainda durante a minha gestação em útero hostil.
Período em que eu, pretensa pedra filosofal,
Fui cozida em forno ácido
E só resultei em nigredo...
Não, Álvaro,
Não houve criada descuidada que, involuntária,
Derrubasse-me a alma do topo de uma escada.
Não houve deuses no parapeito
A fitá-la, tolerantes.
Não houve criança que a acertasse
com um estilingue mal calibrado.
Não houve gato que, esquecido preso por seu dono,
Nela esbarrasse por medo.
Não houve nada.
Não houve ninguém.
Apenas um bocado de argila
A que faltava o equilíbrio de seus componentes químicos.
Apenas um forno sem o Fogo da Transmutação
E a brasa da humanidade e da compaixão.
Apenas a boca sem dentes do nada, do nunca mais...
apenas alguém que, sem o saber, deu em chuvoso.

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