Sunday, April 30, 2006



Ritual
(Luz... Porto)
Pinto meus olhos com negro kajal.
Olheiras? Disfarço-as com corretivo...
Sombras acinzentadas esfumaçam-me o olhar.
Rímel espessa-me os cílios.
Batom vermelho tinge-me os lábios,
Logo umedecidos com gloss.
Um leve toque de blush
Salienta-me as maçãs pálidas.
Glitter salpicado aqui e acolá
Enfeita-me o colo polvilhado de sardas.
Manicuro-me com cuidado
E minhas garras tomam-se de sangue rubi.
Almiscaro-me na nuca, nos pulsos, nos seios,
Nos lóbulos, no ventre, nas coxas.
E, assim, travestida de mim mesma
Penduro brincos, colares, pulseiras, anéis.
Cubro-me com tecidos diáfanos e xale de lã.
Calço minhas sandálias aladas.
Cruzo a soleira da porta
E minha carcaça corroída
Está pronta para mais um dia de trabalho.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Um refúgio pra aparentar o belo. Mas a carcaça ninguém dissimula!
Excelente poema!

02 May, 2006 07:23  
Anonymous Anonymous said...

O que dizer?

Uns fogem da tristeza sorrindo, outros fumando opium... Há tantas maneiras de se fugir da alma, mas ela sempre está ali. E o corpo, ele é a única pedra a atravessar o caminho de nós mesmos.

02 May, 2006 20:57  
Anonymous Anonymous said...

Eu me identifiquei com o texto. Autor e leitor sabem, reconhecem a incoerência de fugir de si através de si mesmos... mas como lutar contra isso?

O tom de derrota admitida pelo autor do poema é ao mesmo tempo revolucionário e inquietante. Mas o que fazer?!?

Só nos resta continuar com o ritual, pois o trabalho nos chama...

03 May, 2006 23:06  
Anonymous Anonymous said...

Enquanto o poeta assiste o seu desmanche
nos esperamos ,pacientemete , que a mulher,com quem acordamos ,se monte em frente ao espelho.Como diz o poeta Fernando brant :"o amor é um mixto de felicidade e paciência".
parabéns pelo texto que detalha o ritual diário delas.Quizera ser como o espelho que as reflete sem refletir sobre elas.Bjs.Kadin de novo

06 May, 2006 09:36  
Anonymous Anonymous said...

bakhtin explica?

15 June, 2006 08:02  

Post a Comment

<< Home