Wednesday, December 31, 2014


CALIGRAFIA

(Luz... Porto)


Pedi-lhe que incrustasse
Seu amor em minha pele,
Por mais que me custasse
Bico de pena, pincel e nanquim.
Ele recusou-se. "Não te marco.
Pode doer e não mais sair"
Achei bonito o gesto carinhoso.
Ele, o exímio calígrafo da região,
Não tatuar, em tez virgem,
Ideogramas que nem carvão.
Tola, boba que eu era,
Não previ sua partida.
Faço eu caminho pedregoso
Em busca do grão vizir
Que me arranjará grande barco
Para no oceano me sumir.
O vizir ordena :"Dispa-te"
Deixo cair meu quimono...
Com surpresa chama os sábios
Que põem-se de pronto a examinar
Alfabeto cirílico enfeitando meu dorso
Confabulam, trazem alfarrábios
Passam-se horas. Com esforço
Leem-me a brasa incandescente:
"Foste minha esta noite
E outra e outra e outra.
Para sempre o serás.
Não haverá borracha,
Punhal ou mágica poção
Que desfaça esse encanto.
Se parti, precisei. Não voltarei.
Não te desfaças assim em pranto
Arranja um bom campônio
Casa-te com ele. Marcas não verá.
Agora que já o sabes
Concentra-te ao dormires:
Será comigo nas noites quentes
Que, de prazer, galoparás."

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