Saturday, December 20, 2014

(TRAGI)COMÉDIA HUMANA



(Luzia Porto)



Pior que a morte solitária
É o definhar-se em vida
Lento, doloroso, em gotas.
Atropos se demora cruel,
Lachesis se esmera em torturas.
A Cloto, fútil, pouco importa
A boa ou a má sorte distribuída
No desolado coração humano.
Aos deuses pouco se lhes dá
A tragédia que transcorre abaixo do Olimpo:
A má fortuna, as lágrimas que alagam, 
Os cravos que penetram a carne
Envelhecida, machucada, sofrida.
Aos deuses só interessam
Sacrifícios, ilações, peregrinações.
Que sejam cultuados em santuários
Ricos, suntuosos, esplendorosos.
Os deuses só querem servos
Tontos, assustados, vazios,
A quem possam manobrar
Como marionetes
E a quem possam esmagar qual insetos
Quando assim bem lhes aprouver.

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