Tuesday, January 06, 2015

TWELFTH NIGHT TUPINIQUIM
(Luz... Porto)


Para José Carlos Pacheco Cesar Fernandes




Há muitos anos, resolvi celebrar o Dia de Reis com um amigo. Embora de família católica, não tínhamos o hábito dessa celebração. Dia 6 de janeiro era apenas o dia de desarmar a árvore, sabe-se Deus porque.
Foi uma celebração pequena. Íntima e festiva. Fomos a um restaurante, que já não existe mais, e, após a sobremesa, eu abri a romã que colhera da árvore da vizinha.
Sim. Havia jardins, havia romãs naquele tempo. Não havia pressa para mim. Conversávamos horas a fio. Lembro que estreei um vestido novo que eu desenhara. Crepe musson com crepe georgette finíssimo. Vermelho para combinar com a romã. Comemos o número exato (não lembro quantos. 12, talvez) de caroços e os guardamos para a Boa Fortuna. Não me lembro o ano, mas lembro a época. Creio que a Fortuna me sorria, ainda que só viesse a dar conta disto mais tarde.
Falam em Reisado, Folia de Reis, mas o dia 6, celebrado até por Shakespeare em 12th Night (Noite de Reis) é a consagração do nascimento de Jesus. Os três Reis Magos, Melchior, Gaspar e Balthazar, teriam sido avisados da vinda do Messias e, seguindo uma estrela, localizaram o Menino-Deus em um estábulo. Segundo o site das Edições Paulinas, eles eram "magos" por sua sabedoria, não por "se dedicarem a práticas nefastas, como a da Astrologia."
Impossível, para mim, concordar com essa visão. A realeza, a divindade do Menino são reconhecidas após uma mandala de 12 noites. Andei postando o significado de cada noite através da Biblioteca de Antroposofia. A cada uma corresponde uma constelação,um signo. E a mandala astrológica roda no sentido anti-horário, de tal sorte que a décima-segunda corresponde ao signo de Áries, o primeiro deles. A origem da Vida. A Primavera.
E não seria o nascimento do Messias esse desabrochar, essa luz nova que surge após o longo inverno?
Curiosamente essa tríade de reis presenteará o menino com três coisas específicas e relevantes: o ouro, que confirma a Realeza. O incenso a reafirmar o caráter divino do recém-nascido. E a mirra que denota a sua porção humana.
Os reis foram canonizados. Seus restos mortais permaneceram em Constantinopla até serem trasladados para Milão. Finalmente foram movidos para Colônia, Alemanha, onde seus despojos repousam sob a Basílica dos Reis.
Essas informações a gente encontra fácil na Internet, mas o sentido dessa visita, dessa peregrinação iniciada na noite de 24 para 25, não se encontra nos Compêndios. Não o sentido real. Afinal, o que nós, nem reis, nem magos, mas não menos viajores, vamos ofertar ao Deus-menino que renasceu em nós? Não uma lista de resoluções para o Ano Novo. Que será Bom, espero. Mas algo íntimo, nosso. Um talento que nos foi confiado pelo Pai e que devemos, ao menos, tentar desenvolver. Bem, essa conversa de pé-de-ouvido é entre cada um e Jesus Cristinho. 
Celebrarei esse dia amanhã, com o mesmo amigo. E o tom da minha conversa com a Segunda Pessoa da Trindade, nem eu mesma sei. Apenas desconfio. Mas é no silêncio que essas coisas são ditas. E serão.

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