Thursday, February 01, 2007



DESVIRGINAL
(Luz... Porto)

Meu útero, marcaste-o a ferro e a sangue.
Trago-te dentro de mim
Como a um filho não concebido.
Mal gerado, mal criado, mas perene e arraigado.
Meu útero intocado surpreendeu-se com tua chegada
E minhas mucosas muito pouco complacentes
Acolheram-te como a terra árida à chuva fértil,
Absorvendo-te, integrando-te a mim
Do modo como não te integraste à força de um amor
Por mim sentido, acalentado, imaginado.
Talvez não tenha vingado em mim
A semente que, por descuido, plantaste.
(Talvez não fosse eu merecedora
De graça tamanha).
Quem sabe meu amor por ti
Fosse tal que só a ti minas veias acolheriam?
Quem sabe tu não me quisesses compartilhar
Teus cromossomos gloriosos,
Ou, pretensão das pretensões,
Não me quisesses compartilhar com outrem?
Meu útero conturbado
Sabe agora à dor, à maresia, à solidão.

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