Thursday, January 11, 2007


POEMA DA SEM FACE
(Luz... Porto)
Ao nascer um ventre torto
Desses retorcidos à sombra
Expeliu-me dizendo:
"Vai, Luzia, vai ser gauche na vida."
E é essa a única coisa
Tomada de empréstimo a Drummond.
Já nasci meio escolióidica,
Meio torta, sem encaixe.
Os anjos não me quiseram
Tampouco os demônios.
Não tenho sete faces,
Tenho quase uma centena
Que se resumem a uma:
Desconhecida, rechaçada, acuada.
Os carros passam,
Aviões cruzam o céu
E pernas, pernas, pernas,
Me fazem, trôpega, tropeçar.
Mundo imundo,
Parabólicas pulsantes,
Se eu não nascesse leonina
Seria apenas enganação.
"Deus, meu Deus",
É o que diria meu pai
"Por que me deste um coração
De tamanho exagerado
Se sabias que eu não o bombearia,
Se previas meu infarto?"
Eu não queria confessar
Mas essa verve,
Esse poema verborrágico,
Essa vida em nevoeiro,
Não passam de mera ilusão
.

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