Tempos outros, em que não havia internet. Esperava-se tudo pelo correio. E os Correios eram uma instituição de respeito. Conhecíamos os carteiros pelo nome. O meu era Sergio. Gentil, educado, interessado. Fazia o Segundo Grau no Joaquim Távora onde era aluno de meu cunhado. E, curioso, às vezes pegávamos o mesmo ônibus quando eu ia à universidade e ele fazia questão de me ceder o lugar, coisa que alguns namorados de amigas não faziam, nem ao me verem, esquálida, quase a desabar com tantos livros.
O que foi feito de Nicole, o que foi feito de Sergio? Nem faço ideia. Será que alguma vez eles se lembram, ainda que vagamente, de mim? Tenho minhas dúvidas. Pois se nem alguns ex-namorados se dão conta da minha existência...
Feliz era eu em um tempo quando, sem me dar conta, podia tocar o teto com as pontas de meus dedos... Quando sonhava com a lua, as estrelas, contempladas em silêncio no quarto degrau da escada da frente. Silêncio compartilhado por um gato - sempre havia um em minha vida.
A lua, as estrelas, permanecem no céu. O gato, bem, foram vários: Ronrom, Erick, Osíris, Piotr Ilitch e Timtim. Agora tenho o Paco. E, pela primeira vez, duas meninas: Mia e Nina.
De felicidade pouco sei. Só alguns lampejos. Um pôr-de-sol vermelho em São Francisco, uma cachoeira vez em quando, uma flor a me surpreender, o riso de uma criança. Talvez não tenha sido talhada para isso.
Mas não abro mão de pequenos prazeres. Um que me remete à infância e à mocidade: a espera pelo carteiro, anônimo agora. Talvez por isso eu goste de comprar pela internet. Só para ter o gostinho da espera. Da espera do que, ao contrário do afeto, eu posso ter a certeza
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