Thursday, January 08, 2015

ADIEU


(Luz... Porto)





Meu irmão, perco-te na vida
Para encontrá-lo na morte.
Se a vida nos reserva algo de porte,
Não foi nesta que o galgaste com tua lida.



Meu irmão, nosso sangue se mistura
Como misturado já fora no útero materno.
Nossa descendência não se depura,
Queria tanto um último abraço fraterno.

Não sei se sinto falta de ti
Ou se sinto falta de mim, irmão.
Procuro, reviro e não estás aqui.
Vazio e desalento invadem-me o coração.

A hemorragia foi grande, severa.
Artérias rompidas, passagem dolorosa.
Quando soube, fiquei à espera
Do esquife, teu corpo, tua casca já porosa.

Nunca pensei sentir tanta falta,
Nunca supus que te fosses antes de mim,
Mas o destino, cruel ribalta,
O destino ardiloso quis assim.

Meu irmão, de bom grado te daria
Artérias, fígado, veias, rim.
Mas nada, nada, nada, enfim,
De volta aos teus de bom grado te traria.

Sinto-me impassível, impossibilitada, travada.
Não pude, irmão, mudar teu destino.
Tua ausência preenche dias, madrugadas
E me perco, me afogo num só desatino.

Dizem que um dia de reencontrar havemos.
Anseio, espero, aguardo com ardor
A hora, o minuto, o segundo de nos revermos.
Queria que acreditasses no meu amor.

Se de ti me apartei não foi querendo.
Foram a vida, as escolhas, meu jeito torto.
Se pudesse eu voltava. Mudava, mesmo sofrendo
Para não ter de ouvir tão cedo:"Teu irmão está morto".

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