Wednesday, December 27, 2017

Bella Dona
(Luz... Porto)



A bela senhora chega mansinho
À beira-mar, ao espelho das águas.
Fecha os olhos, a brisa vem tocar
Sua face fria, tremendo de medo.
Quantos anos, Senhor? Trinta? Quarenta?
Sem sal, sem sol, sem onda ou areia.
Lembra o Anjo- Pés-Tortos a nadar,
Seu pai, seu abrigo, sua alegria.
Ela o vê, ele diz: “Vem logo, Filha”.
Ela avança, sente as algas, recua.
Está só naquele dia de inverno.
As águas chamam, brilham, seduzem.
Pupila arregalada, a pele eriça, fera desperta
Do fundo emerge o que nunca quis ver:
Yemanjá com sereias, colares e conchas.
Benze-se três vezes. Não, não pode crer.
Afasta-se, cai, tropeça numa pedra.
“Foi sonho, sonho. Não estão mais aqui.”
Qual nada! Acenam pra ela a sorrir.
Ogum chega a cavalo com sua lança,
Janaína avança brejeira pronta a seduzir.
A moça vê o espelho, o pente, resolve cair
N’água salgada com o fundo a luzir.
Dá uma braçada e outra e outra,
Boia macio no colo de Odoyá,
O sol a aquece, o corpo está enfim vivo.
Da aventura retorna ao lar insípido
Não é mais senhora, mãe de três:
É Loeley, não mais se refreia,
Mulher-Sereia tece por fim sua teia.

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