Monday, May 15, 2006


Cativeiro
(Luz... Porto)
Diz um experimento
Que se dois gêmeos univitelinos
Forem separados ao nascer:
Um, enviado para o Espaço num foguete
Enquanto o outro na Terra permanecesse,
Dentro de vinte ou trinta anos
O que o Espaço conhecera
Mais novo será que o que na Terra adormeceu.
Eu sou o que fica.
O que tem fobia à amplidão.
Mas eu não quero ser o que fica.
Nunca quis.
Quero espaços, céu, horizontes,
Mas meus grilhões me tolhem.
E fico eu, de negro,
Enterrada numa casa de areia prestes a desabar,
Soterrada por tempestades do deserto,
Em meio a escaravelhos, aranhas e escorpiões.
Alimento-me de cadáveres,
De bichos que vêm dar à praia.
Sobrevivo com os destroços
De navios que por ali sossobraram
E com esses cacos eu me adorno,
Enfeito as paredes de minha casa-sepulcro,
Crio louça, talher, utensílios,
Improviso móveis.
Tento, todos os dias, achar uma saída.
Sem bússola, nem estrela-guia
Persigo miragens, busco oásis
E acabo voltando para o de onde vim.
Busco salvadores que já se foram,
Perco a carona da vida por uma fração de segundos
E acabo sempre sozinha, prisioneira de mim.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

toma minha mão e vem junto beber o sol.

15 June, 2006 07:56  

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