Monday, May 15, 2006


Verão Vermelho
(Luz... Porto)
Este sertão sem fim que me atravessa
Tem raízes em gerações anteriores,
Em encarnações que desconheço.
É um deserto árido, extenso, intenso,
Com mandacarus, gado a morrer,
Cabras a definhar, pasto a fenecer,
Urubus, carcarás, assum preto.
Sou do sertão, mesmo nascida no Litoral sudeste,
Apesar das raizes serranas,
Malgrado meus traços balcânicos.
O sertão cresce dentro em mim
Povoa meus sonhos e corre em minhas veias.
Este sertão que emergiu subterrâneo
Aflorou em cactus na adolescência
E assenhorou-se de mim, sem que eu o soubesse
Na maturidade
Quando me revelei leão do norte.
Desdentado, alquebrado, juba maltratada,
Mas leão. E feroz.
Talvez leoa, talvez loba
A matar os que ameacem sua cria.
O leão se aquietou e se aquieta.
Finjo que ele não existe
E me faço cordeiro dócil, olhos mansos.
Cuidado, seu moço!
A fera atocaiada espreita.
Não cutuque a onça com vara curta.
A fera finge dormir, faz-se domesticada,
Senta-se a meu lado à mesa de café,
Observa-me com olhos atentos e amarelos.
Cuidado!
A qualquer momento ela me toma
E nós, fundidas em besta-fera,
Cavalgaremos e tomaremos para nós
Este mar/sertão sem fim.

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