Monday, November 02, 2015


CANTINHO


(Luz... Porto)
Para Ana Luísa Vieira Martins


...e na casa que há de ser minha haverá um cantinho assim. Deixarei o abajur Tiffany's que tanto amo na sala íntima e em minha mesinha repousará um outro com tons florais. Nada de computador. Aqui, só papéis de carta com envelopes. Papel de qualidade, decorado a mão. Papéis grandes onde rabiscarei meus textos. Um mata-borrão para a pena. E a janela...
Circundada por cortinas também com temas florais, a janela antiga se abrirá para um jardim de infinitos verdes. Flores, canteiros cercados por pedras, uma árvore aqui, outra acolá. Um laguinho com um chafariz ao centro. Estarei inspirada, alegre ou triste, mas sempre com o jardim à minha vista. Roseiras de várias cores. Em homenagem à minha avó, três estarão juntas: a amarela, a vermelha e a branca, representando Maria Rosa Mística, de quem ela foi devota nos últimos anos de sua vida. Borboletas e passarinhos em bandos completarão a paisagem, contrastando com os diversos azuis que o céu exibirá.
De uma das sólidas e confortáveis poltronas de couro, assistirei à passagem das horas enquanto escrevo, leio, escuto música. Uma brisa fresca virá acariciar meu rosto e meus cabelos enquanto sorvo lentamente o chá da tarde. Neste momento, passado, presente e futuro se darão as mãos. O tempo ficará suspenso e verei a meu lado presenças queridas.
Lilila, a avó que eu quis ter, além da minha, sorrirá para mim enquanto pinta aquarelas ou porcelana e me conta histórias nunca reveladas de meus antepassados. Luciano, meu "amigo especial da praça", estará lúcido e, vestido com muita classe, filmará tudo com sua câmera do início do século XX. Vânia, a mãe que eu queria ter em criança, ajeitará braçadas de rosas amarelas e me trará um irrecusável "Nescau". Meus gatos Mixuruca, Ronrom, Erick, Osíris, Pipinho, Hórus e Tim Tim estarão espalhados, dormindo cada um a seu canto, mas todos de olho em mim. Minhas cachorrinhas Dudinha, Agatha e Christie se esticarão pelo tapete, Christie a meus pés.
Cercada por tanto amor nesse intervalo de tempo que não se pode medir, escreverei coisas belas e me tornarei poeta. Conseguirei então adormecer em paz. Como uma pluma pairando no sopro do Criador.


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