Wednesday, August 30, 2006


A Gosto
(Luz... Porto)
Era agosto, eu me lembro.
O céu azul com um ou outro
Fiapo de nuvem a fazer contraste.
Árvores carregadas de flores
Rosa, fúcsia, vermelhas, amarelas.
Borboletas passeando,
Cumprimentando pássaros sem rumo
Urubus fazendo Vs no firmamento.
Era agosto e eu esperava ansiosa
Pelo meu aniversário,
Aquele dia único, singular, especial,
Em que todo o Universo
Conspiraria a meu favor.
Haveria festa, bolo,
Brigadeiro, espetinho,
Sanduíches, brinquedos, visitas,
Gato-mia, pique-esconde, bandeirinha.
Era agosto e num leito de hospital,
Abandonado no insondável mundo do coma,
Jazia meu avô, por quem tanto rezava.
Em um hospital do outro lado do mundo,
Em um barro distante por mim nunca visitado,
Deitava-se seu corpo flácido, sem reações.
Minha avó secava e não chorava:
Murchava por dentro.
Minhas irmãs se revezavam nos cuidados.
Meu pai não dormia em casa,
Só ao lado do sogro, velando-o
À espera de um milagre.
Era agosto e, diferente de Casemiro,
Não poderia nunca ter saudades
Da aurora da minha vida
Pois, mesmo sem chuvas nem trovões,
O sol não brilhou na manhã dos meus oito anos.
Às seis despertou-me a visita fatídica
Com a notícia irremediável.
Não houve festa naquele dia.
Tampouco lágrimas consegui derramar.
Não entendia o que era a morte
(Não a entendo até hoje).
Só chorei meses depois
Quando minha novela favorita acabou.
Não houve festa
E desde aquele dia
Visto luto fechado a cada aniversário meu.
As rosas que porventura recebo
São apenas coroas fúnebres
A ornamentarem antecipadamente minhas exéquias.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Triste... como é a vida, como é a morte.

Daline.

01 September, 2006 19:18  

Post a Comment

<< Home