Wednesday, August 30, 2006


Catalepsia
(Luz... Porto)
"It's too late!"
É o que dizia o Coelho Branco a Alice.
"It's too late, baby!"
É o refrão que tocava nas rádios
Quando éramos crianças.
Eu me entristecia sem saber a razão.
Agora, que o outono
Se aproxima da minha vida,
Quando minhas folhas tomam-se
De um vermelho quase cobre, quase bronze,
Último fulgor prenunciando
O inverno do qual não escaparei,
Tais palavras batem em meu peito
Como um sino fúnebre
Chamando para o meu enterro.
"Never more!" "Never more!"
Diz o corvo de Poe a me visitar à noite.
Nada sou além de um de seus personagens,
Talvez o da Casa de Usher,
O tal cataléptico, claustrofóbico.
O musgo, a hera tomam
Os muros que crescem à minha volta e revelia
Erigindo minha torre de marfim
Da qual não sairei viva,
Dentro da qual estou condenada
A ver o mundo, a vida que nunca tive,
Passarem diante de meus olhos
Enquanto gasto a eternidade qual zumbi errante.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Auto-fotografia errante?

Talvez, minha cara, seja uma sina dos que sentem com fervor viver velando e odiando as máscaras que vestem. Que assim seja.
Tenhamos pena dos que não precisam vestir ou odiar máscaras, já que são, de fato, gélidos, mortos.

Daline.

01 September, 2006 19:12  

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