Wednesday, August 30, 2006



Recordações da Casa Paterna
(Luz... Porto)
Os ratos roeram o forro da velha poltrona,
Os cupins moeram grão a grão as gavetas do guarda-roupa,
As traças puíram os lençóis matrimoniais
Até então intocados,
A chuva corroeu a fiação semi-centenária,
A osteoporose traçou prematura o esqueleto,
O vento espatifou o barro do telhado,
As raízes floridas abalaram as sapatas de parco concreto,
A ferrugem mastigou o encanamento de ferro,
As pedras retiveram a umidade nas paredes,
A marreta constante e voraz destruiu a escada
Onde o amor distraído já fizera visita,
A poeira contaminou olhos e pulmões,
Os ladrilhos consolidaram labirintos sem Minotauro,
Os portões altos delimitaram o espaço de lazer,
As lajes abafaram a ventilação,
Cimento cinza enterrou viva a grama verde,
As árvores foram arrancadas,
Os galhos, quebrados,
As folhas, pisoteadas,
O sol...
O sol, para sempre exilado, jamais brilhou novamente.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

o passado desmoronando...

02 September, 2006 11:09  

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