Sunday, June 18, 2006


PETRA
(Luz... Porto)
No meio da garganta havia uma pedra.
Em lugar do coração jazia uma pedra.
O sexo, cansado, era protegido por uma pedra.
Nessa fábula de Midas às avessas
As pedras não são pepitas de ouro.
A carne não é músculo, tecido, nervos, sangue.
Apenas a rocha fria, eternamente mineral...
Ou seriam cristais de oxalato de cálcio?
Não importa.
O fato é que a vida se lhe empedrara.
Feitiço de alguma bruxa , malvada?
Praga de madrinha?
Tudo virou pedra.
O sangue enrijeceu-se nas artérias coaguladas
E os pulmões, os brônquios viraram pedra-pomes.
Aquele Golem não judaico
Prosseguia, insistia, resistia tolamente.
Seu olhar petrificado qual Medusa
Não se enternecia com mais nada.
Cansada de sofrer, abandonou o prazer
Por vir este sempre acompanhado da dor.
E a dor fôra tanta
Que já nem a sentia mais.
Num movimento anti-Gênesis
Não voltou ao pó de que viera,
Mas à rocha bruta, irmã do barro.
Rocha talhada com cinzel, sem anestesia.
Rocha que precedeu o nascimento do Homem
E que lhe servirá de lápide no cerrar das cortinas.

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