Saturday, June 17, 2006


Promíscua
(Luz... Porto)
Minhas pernas trôpegas
Transitaram por tantas avenidas,
Alamedas, becos, labirintos.
Minhas pernas já se enroscaram
Em tantas outras mais ou menos cabeludas.
Meus lábios sedentos
Tentaram, em vão, saciar sua sede
Em bocas, barbas e bigodes,
Mas só encontraram água salobra.
Meus braços
Buscaram abraços que me aquecessem.
Só acharam peitos fechados,
Corações empedernidos.
Minha sina misturou-se a tantas outras, sem tino,
Que destracei de vez todo o meu destino
E enganei as Parcas sombrias.
Meus olhos tanto procuraram
Por aqueles em cujas íris
Pudessem se ver refletidos
Que acabaram em poças de água
Parada, nauseante, pestilenta.
Meus olhos envelheceram
Antes de cruzarem com os teus
Nalguma esquina do tempo,
Perdidos na multidão.
E toda a doçura que traziam
Talhou qual leite estragado
E virou fel, vinagre, ácido.
Por que demoraste tanto?
Por que não me avisaste que virias?
Ter-me-ia congelado,
Mumificado, embalsamado
Para que inda guardasse
Alguma ternura para te ofertar.

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