Thursday, January 19, 2006



À La Jacques Prévert
(Luz... Porto)
Ela senta-se à mesa,
Serve-se de chá,
Passa geléia na torrada
E suspira.
Ele puxa a cadeira,
Toma o seu cappuccino,
Saca do jornal
E o folheia.
Colheres batem contra a porcelana,
Facas tilintam por sobre os pratos,
O vento sopra pela janela
E faz meia-volta.
Ele se levanta sem fitá-la,
Escova os dentes sem brilho,
Pega o seu inseparável crachá
E se vai.
Ela toma uma ducha fria,
Veste-se de negro,
Olha a louça na pia
E se esvai


Moderna Capitu (Outro Retrato 2)
(Luz... Porto)
Olhos de cristal.
Olhos negros como o ônix.
Oblíquos? Cigana dissimulada?
Herança genética de antepassados indígenas?
Mongol em outra encarnação?
Minha tabula rasa, não tão rasa.
Águas profundas e pantanosas
Como charco onde me afundo.
Areia movediça de onde não saio
E onde serei devorada
Por tubarões e peixes e plâncton.