Saturday, September 24, 2016

OBSERVATÓRIO.

(Luzia Porto)




Meu avô viu o cometa Halley. Tivesse partido mais tarde, conseguiria avistá- lo outra vez.
Minha tia via estrelas, planetas e cometas de nosso telhado e, depois, de sua varanda.
E você, mãe? De onde via estrelas? Das noites escuras de uma Friburgo antiga, mal iluminada por lampiões a gás? Da escada da frente de nossa casa no tempo em que havia jardins e manhãs? Você fazia pedido às estrelas cadentes ou tinha medo de ficar com uma verruga na ponta dos dedos? Qual é o seu pedido agora, mãe?
De minha varanda na cidade iluminada não vejo estrelas. Só prédios. Fiz milhares de pedidos às estrelas. Nunca te contei, mãe. Meu pai talvez soubesse. Alguns foram atendidos, outros, não. Uns outros ainda podem vir a ser.
Nessa noite de equinócio (foi hoje? Ontem? Perdi a noção do tempo. Como são longas e torturantes as noites em hospitais. Mesmo para quem não está internado...) apontaria meu dedo acompanhando a trajetória da estrela e gritaria: "Me dê mais uma vez a sua bênção para que eu possa dormir, mãe. Fala comigo."
O grito talvez se perdesse na noite. Talvez você ouvisse, talvez não. Quem sabe não é você a estrela que tento alcançar?