Wednesday, November 26, 2014


(REME) MORADA


(Luz... Porto)



Visito a casa onde cresci
Não, não está mais aqui.
Paredes, jardim, portas...
Não vejo qualquer rua torta
Que me reconduza ao começo.
Olho à volta, vejo baratas, ratos,
Que destruíram a poltrona-berço
Onde a avó me acalmava os sobressaltos.
Os raios de sol que defloravam
Da grande porta a bandeira,
Tecendo miríades de flores coloridas,
Já conheceram o seu ocaso.
Às varandas pessoas conversavam.
Riam, varavam a noite inteira,
Beliscando salgados, adiando partidas,
Contando cada uma seu caso.
Não, não há mais a casa de infância,
Não há infância, não há menina.
Nada mais de bichinhos, plantas
Ou árvores. Só resta o cimento frio,
Lápide da família desfeita.
Pode ser que em outra instância,
Plasmada em novas retinas,
Fincada em uma terra santa,
Repouse em novo ninho
A morada então perfeita
Onde bicos-de-papagaio, beija-flores,
Céus azuis e grandes matas,
Acolham, aliviem as dores,
Desse poeta desesperado.