Pessoal e Intransferível
(Luz... Porto)
Nestes versos sem rima,
No poema sem ritmo,
Meu coração arrítmico se espraia.
Nesta ode sem metro,
No metro quadrado de meu corpo,
Eu, ectópica, desterrada estou.
Em minha cantiga sem amigo,
Sem amor, sem escárnio, só tédio,
A passagem das horas se demora.
Tênue linha que separa meu Rio do teu,
Onde o pôr-do-sol, lânguido, se alonga,
Mas em que não me banho,
Rio que não mais visitas.
Neste meu corpoterritório
A cartografia do desejo
Não passa de borrões desbotados
A desenharem um jardim de delícias
De que pouco desfrutaste.
Meus vales de onde jorram leite e mel
Secaram com teu descaso.
E se foi isto o que o Acaso quis
Pouco se me dá neste ocaso:
Sou eu esta morta-viva
Que no Letes se afogará.