Wednesday, February 03, 2016


FELIZ DESANIVERSÁRIO!

(Luz... Porto)



Hoje é dia do meu desaniversário. Alice sentava-se com o Chapeleiro Maluco, a Lebre de Março e o Dormindongo para celebrarem o Desaniversário (Unbirthday). Nunca entendi muito do que se tratava até que alguém me explicou que o desaniversário seria sua data de nascimento em outro mês. Sendo procedente ou não, adotei a explicação como verdadeira. Um dia me dei conta de que o desaniversário deveria corresponder ao dia do mês oposto ao do nosso nascimento. O dia em que completamos X anos e meio.
Não comemorei meu aniversário como gostaria este ano. Há alguns anos, não o faço. Uma festinha no salão de festas do prédio em que moro cairia bem. Falaram muito sobre gastos e eu me decepcionei. Era, outrora, uma entusiasta de aniversários. Talvez ainda o seja. Talvez embaixo da camada desagradável do que me tornei, ainda reste aquela "adolescente retardada", como uma de minhas irmãs se refere "carinhosamente" à minha pessoa. A adolescente que comemorava o mês de agosto inteiro, mas só a partir do dia 4 para não dar azar.
Curiosamente, um convite de jantar, desmarcado sem aviso, me foi oferecido como almoço, seis meses depois. Não houve bolo, não houve foto. Houve um dia lindo. Canícula dos infernos de que o poderoso ar refrigerado do restaurante nos protegia. E a luz no mar? Era bonita. Prefiro o azul de agosto, mas estava bonito o dia.
Essa data sempre me põe a pensar em uma "gêmea" que eu poderia ter através do espelho (Through the Looking Glass), para citar a Alice de Lewis Carroll. Gêmea às avessas. Sendo meu oposto complementar na Astrologia, ela seria o que não sou, faria o que não fiz, viveria o que não vivi. Não tendo cruzado a fronteira do espelho, não pude me fundir a ela para nos completarmos. E o desaniversário vem me cobrar isso.
Meu desaniversário é Chronos batendo à porta e fazendo a justiça. Cobrando o que foi plantado e apontando para a ampulheta a me dizer, como o Coelho Branco de Alice:"É tarde! É tarde! É tarde, é tarde, é tarde!" Parece que meu Saturno fica mais à flor da pele e dá aquelas puxadinhas no meu Sol:"Mas não era pra brilhar?"
No desaniversário, eu não brilho. Recolho-me ao quarto e espero passar. Tento dormir, vejo a Outra. Feliz, sorridente, vitoriosa. Penso: "É um espectro!" Ela me dá um meio-sorriso, uma piscadela, qual a Mulher Gato com um saco cheio de diamantes chamando Batman para fugir. "Vamos?" O Paladino da Justiça sente-se tentado, mas fica. Por princípios. Ela pula o abismo e cai. Ele seca uma furtiva lágrima com sua luva-morcego e diz:"Ela ainda tem seis vidas..." Eu? Eu travo à beira do abismo. Se a outra tem sete vidas, nem meia mais me resta...