Friday, December 29, 2006








INTO MY SOUL
(Luz Porto)
Trago em meu corpo
Inúmeras marcas de tentativas suicidas.
Meus pulsos exibem cicatrizes
Do corte profundo
Que a navalha não fez.
No peito, em forma de estrela,
Vestígios da bala
Que em mim não entrou.
O estômago mostra o trajeto
Da lavagem a expulsar
Barbitúricos que não ingeri.
Ao redor do pescoço
Tenho o contorno
Da corda com que não me enforquei.
Os ossos exibem a platina
Inserida para juntá-los
Após o salto mortal que não dei.
As narinas carcomidas
Pela cocaína que não cheirei
Falam da overdose
Que não experimentei.
E se pensam: "É subliteratura.
São metáforas vãs.",
Não retrucarei.
Mas sei que arrasto o estandarte
Das chagas de alma
(Que só quem as tem pode saber)
Em alguma de minhas vidas felinas
De gata que não se deu bem.