Monday, March 31, 2014

ECO E NARCISO
(Luz... Porto)

Contam- me desde menina
Que sina, que sina
Que em doce não se mete colher
Nem mulher, nem mulher
Que não esteja virgem e limpa
Limpa, limpa
Para não azedar- lhe o sabor
Nem o olor, nem o olor
Sempre fui obediente
E ciente, e ciente
E respeitei os doces da vozinha
Só minha, só minha
Que souberam bem a açúcar e canela
Na panela, na panela
Mais tarde descobri sozinha
E tristinha, tristinha
Que a química dos corpos é similar
É amar? É amar?
Para gozares de meu leite e mel
Meu céu, meu céu
Tens de estar casto e inteiro
Ser parceiro, parceiro
Não podes nunca quebrar este pacto
De facto, de facto
Então por que me vieste
Se o soubeste, soubeste
Com a colher usada em outra
Mas outra, mais outra
Travaste- me, travaste- me
Que traste, que traste
Despertando- me amargura e dissabor
Des- sabor, des- sabor
Corre- me apenas fel nas veias
Sem peias, sem peias
Volta lá pras profundezas
E redondezas
Some de meu pensamento
Que lamento, que lamento
Não me apareças mais, não me visites
Nem de chiste, nem de chiste
Retorna ao pó de que vieste
Que peste, que peste
E siga eu com minha sina
Em surdina, em surdina.