Friday, July 29, 2016


SOBRE AMIGOS, FLORES E CORES

(Luz... Porto)


Uns dizem que é na infância que fazemos as grandes amizades. Outros afirmam que elas ocorrem na adolescência, tal como a entendemos hoje, indo até os vinte e poucos anos.
Sempre fui amigável, mas não de muitos amigos. A minha casa não era acolhedora, nunca foi da natureza de minha avó materna nem de minha mãe. Apenas alguns primos e vizinhos muito próximos a frequentavam. Mamãe não gostava que eu viajasse, dormisse na casa de amigas ou primas, e isso me limitava. Talvez, no fim das contas, tenha eu mesma me tornado casmurrenta.
Trago porém algumas lembranças felizes de meus verdes anos. Pessoas das quais acabei me distanciando, outras que se distanciaram de mim, e algumas, especiais, que lá permanecem, cristalizadas, eternas em um tempo possível e paralelo, segundo a Física Quântica, ao lado de uma Luzia alegre, implicante, sempre pronta para uma novidade e sempre com um gato ao lado.
Dentre as minhas lembranças e amizades, a verdadeiramente perene é Ana Luísa. Não me recordo se éramos “melhores amigas” em sala. Havia outras com quem passava o recreio. Estas se foram. Com Aninha era diferente. Eu frequentava a casa dela, o play. Brincávamos de mil coisas. Eu me sentia aceita por Dona Vânia, Seu Luís, Fernanda e Gustavo. E pelas outras crianças que por lá circulavam. Era um lugar onde eu podia ser eu mesma.
Nós nos conhecemos em um período de transição. Mudáramos de turma, eu “pulara” de ano e ela viera transferida do Rio. Da segunda série as lembranças são vagas, mas na terceira... Na terceira, tínhamos Tia Terezinha, a Inesquecível. Ela veio e coloriu nossas vidas. Fez com que me esquecesse do uniforme horrível e do azul-marinho, cor que abomino até hoje. Era a época dos lápis de cor, das canetas hidrocor. Fazíamos a festa, os cadernos enfeitadíssimos. Não sabia da inclinação nem do talento da Aninha para desenho, pintura e artes manuais. Ainda...
Não, não frequentei o nono andar durante a adolescência. Troquei de escola, o que me trouxe vantagens. Outra forma de ver o mundo, novas amizades mais sólidas no geral e um sentido maior de responsabilidade sobre mim mesma. De quebra, vinha o morro atrás, que subíamos com ou sem professores. Flores variadas, cores que iam do pálido da manhã ao meio-dia do céu de inverno. A vista da cidade, a neblina.
Acho que ficamos uns dez anos sem nos vermos. Nunca a esqueci. Encontramo-nos na rua e voltei a frequentar os “Vieira Martins”. Saímos juntas algumas vezes. Assistimos a um show do Céu da Boca na Reitoria da UFF. Conheci novas pessoas lá. Fui ao casamento e à formatura de Ana. Provavelmente estive na formatura da Fernanda também.
Novas distâncias, novos reencontros. Falávamos como se tivéssemos nos visto na véspera. A sensação de intimidade e de cumplicidade é a mesma. A mesma das duas pirralhas que atravessavam a quadra e mais um tanto para brincar de balanço e gangorra no parquinho um quanto abandonado e soturno.
Mudam-se os tempos, mudam-se as histórias, os estados civis, os eventos. Por uma dessas razões que nos escapam à própria razão, parece que não me surpreendo negativamente com os infortúnios dela, nem ela com os meus. Olho para ela e penso/digo: ”Nossa! Como você está bem!” A meu ver, ela remoçou. Espero ou imagino que ela pense quase o mesmo de mim.
Quando conversamos, acabamos rindo. Rindo muito. Compartilhamos um senso de humor parecido, malgrado nossas diferenças. Eu, sonhadora; ela, prática. Eu, um burburinho; ela, organizada. Temos nossos segredos, nossos sonhos inconfessáveis. Isso é importante em uma amizade. Não nos metemos na vida uma da outra, mas estamos lá e sempre temos alguma palavra boa, amiga, de ânimo, de generosidade. Ela diz que eu a faço rir. Ela me traz esperança...
Acredito muito na Ana. Ela é uma pessoa admirável, e o mais admirável é que acredite em mim!!!!! Por isso, recordo as palavras de F. Almir R. G. OFM: “No mistério da fé, na noite escura da fé, no coração da noite de minha caminhada eu creio que um mundo novo está sendo construído.” Elas me chegam aos ouvidos como: “Na noite escura da fé em mim, tento crer que uma Luzia melhor está sendo construída.”
Feliz Ano Novo, Ana Luísa. Uma linda Revolução Solar. Parabéns, felicidades, boas risadas. Arte, beleza, flores, mares, bons sonhos de se sonhar.
Um beijo do fundo do meu coração,

L.P.