Friday, February 10, 2006


RUBI
(Luz... Porto)
Cai uma lágrima
De meus olhos secos.
Lágrima-cristal
Corta -me os sulcos da face,
Fruto de noites insones
E de tormentos n'alma.
Lágrima de crocodilo
Traveste-me em carpideira
A velar meu coração congelado,
Vindo de eras glaciais,
Tempos imemoriais
Em que almas descarnadas
Vagueavam em bando:
Informes, disformes, amorfas,
Mais cegas do que nunca.
Cai uma gota de sangue
Do teu poema
Bem dentro de meu decote.
A gota, doce e espessa,
Desce lenta, deixando rastros no peito
Até alojar-se no meu coração
Que, fecundado, traz a primavera
E eu, pobre Bela Adormecida, por fim desperto.


A OUTRA
(Luz... Porto)
Quem é esta que vaga por aí
A arrastar farrapos
De roupas, de sonhos, de vida?
Quem é esta, cujos cabelos embranqueceram, precoces
E cuja pele perdeu o viço de outrora?
Quem é esta cujo espírito
Foi arrabatado pela tristeza profunda,
A tristeza dos que viram o que não deveriam ver?
Quem é esta criatura ambígua,
Disforme, infame, sem brilho,
Que penetrou-me quando estava distraída,
Apagou-me a chama da vida
E, tirana, tomou-me a alma?

Thursday, February 09, 2006


Quando
(Luz... Porto)
Quando foi que secou-me nas veias o Desejo?
Quando meus pulmões deixaram de inspirar oxigênio
E meu sangue nas veias se coagulou?
Quando foi que meus olhos se tornaram opacos
E se me arquearam as pernas bambas?
Quando surgiu-me essa ruga,
Esse esgar de tristeza na alma?
Quando foi que se me quedaram os ombros
E adormeceram-me os braços?
Em que momento só ouvi o vazio
E minha voz na garganta emudeceu?
Em que exato instante congelou-me o coração
E o inverno, inclemente, fez de mim seu jazigo perpétuo?