Monday, September 01, 2008


Ophelia
(Luz... Porto)



Besta, torta, lá estava eu, caída de amor.
Rubra, rugindo por uma paixão póstuma, antepóstuma.
Ultimato de uma vida sem sentido, demente, brumosa.
Navegava sobre os alicerces sólidos de minha neurose,
A única base em que jamais ousei firmar meus dias lúgubres.
Ao nocaute de meu ego por meu superego sou levada.
Flutuo agora, austera, dona da verdade
Esvaída de meu sangue anêmico traído por minhas entranhas.
Tiraram-me os pés com que pisava o chão.
O útero, os sentidos me foram sedados.
Esbravejo, mas nenhum som vem à minha garganta...
A qualquer momento posso desabar
Mediante um estalar de dedos:
O estalar de dedos da deusa egípcia,
Rúnica, maia, asteca ou hindu a que chamam morte.
Quatro cartas não mas mostrou o Tarô.
Um a um na manga do jogador mais ousado
Adormeceram os ases, a Roda, a Torre, os
Namorados, o Diabo, ou o Enforcado?
De se as desvelar não é chegado o tempo.
Oh! De quantas vidas precisarei
Para decifrar o código cuja chave se
Recusa a abrir meu parco entendimento
Esbugalhado pelo álcool, pelo tabaco, pelo absinto?
Calo-me e me pergunto quantas vezes
Inda terei de morrer para que se cumpra o destino.
Sarcófago displicentemente jogado ao Nilo sou.
Algas cianofíceas emolduram-me o
Rosto pálido e aturdido de
Esfinge que se perdeu em
Seu próprio labirinto.