Friday, December 22, 2017

SOBRE CIMENTO E LÁGRIMAS
(Luz... Porto)


Hoje fui visitada por fadas. Estava naquele estado de "dormeveglia", entre o despertar e o resto de sono. Elas me disseram que eu podia fazer três pedidos. Dois são secretos. O terceiro... O terceiro foi uma visão. Estava em meio a uma guerra entre árabes e o Ocidente. A guerra acabara de acabar, na verdade. Escombros. Estava tudo cinza, feio. Mesquitas, Igrejas Ortodoxas, Igrejas Católicas, Templos, Museus, tudo detruído. Ou bombardeado. Choro. Quero sol. Luz.
Concentro-me e volto ao Rio. A Niterói. Muita coisa precisava ser reerguida. A cor precisava voltar. Chamo, então, minha Camille Claudel dos Pampas, a amiga Marilia Fayh. Eu não sei pintar nada, mas ela veio de macacão jeans, com uma bolsa feito a da Mary Poppins, de onde pulavam pincéis, tintas, cinzéis, buris, paletas com muitas cores. De imediato surgiu um arco-íris.
Segui-a como uma fiel escudeira. Ela restaurava os prédios alquebrados pela ganância e pela falta de gosto. Murais ressuscitaram, tetos foram restaurados. Passava-lhe as ferramentas e ela consertava. Foram dias e dias de trabalho árduo. No último, levei-a a ver o pôr-do-sol do morro atrás da casa de meus pais. Foi lindo. Foi aí que me dei conta de que o mundo, ou a parte que me cercava voltara ao normal.
Marilia adormeceu vendo a copa das árvores da antiga Chácara Bartholdy. Deixei-a dormindo e desci. Minhas mãos ganharam um poder que eu desconhecia. Peguei uma picareta e arranquei o cimento. Havia sacos de terra e sementes. Eu, que nunca plantara antes, preparei a terra, usei fertilizante natural, e as árvores que enfeitaram a minha infância e juventude cresceram rapidamente. O mesmo se deu com as flores. Quando a luz levemente dourada da Aurora surgiu, o jardim pululava em aromas e cores. Os pássaros e as borboletas voltaram. Enchi-me daquela luz preciosa, sorvi-a, me sentindo renovada. Marilia saíra do banho e fomos tomar café da manhã na varanda da frente. Tudo improvisado mas feliz. Da sala vinha Elis em Saudades do Brasil, o show.
Surgiram asas em nossas costas e voamos para Porto Alegre a fim de celebrar o aniversário da escultora sob o dourado intenso do pôr-do-sol do Guaíba. Voltáramos, afinal. A solidão, de nós mesmas, suponho, finalmente se acabara...


AMOR PERFEITO
(Luz... Porto)


Hoje eu queria presentear amores-perfeitos,
Rosas, orquídeas, lavanda, alecrim.
Hoje eu queria homenagear a escultora,
A mãe, a avó, a mulher, enfim,
Que dá vida ao bronze, mármore, marfim
Criando peças de leveza esverdeada
Remetendo-nos à menina afogueada
Que se banhava feliz no litoral.
Hoje eu queria falar da escritora
Que compartilhou sua saga
Com leitores ávidos sem igual.
Como não sei fazer bem feito,
E é tolo o que de mim sai,
Só posso desejar do fundo do peito:
Feliz Aniversário, Marília Fayh.