Sunday, February 12, 2006



Bicho Empalhado
(Luz... Porto)
Morro de medo de te perder.
Perder-te é ver-me amputada.
É ser Van Gogh muitilado,
Frida Kahlo aleijada.
Perder-te não é o abismo:
Nele já vivo há muito tempo.
É, antes, despencar-me,
Em vertigem infinda, rumo ao Nada.
É encarar o Caos de mãos nuas,
Elogiar a Loucura, sem Erasmo,
Trancafiar os "Loucos" em asilos.
É abrir aos criminosos as portas da cadeia.
Perder-te é romper o tênue contato
Que meus cacos ainda mantêm entre si.
É rasgar as fímbrias de minhas vestes rotas.
É desfiar, uma a uma, as cordas do meu coração.
Perder-te é ver-me só, de pijamas rasgados,
No centro de uma desconhecida metrópole.
É perder o auto-controle que nunca tive.
É soçobrar em meio ao gélido Mar do Norte.
Perder-te é ser enterrada viva
Em solo profano, como indigente.
É sufocar no balão de oxigênio,
Desbotar, desidratar, mumificar-me em vida.