Saturday, September 06, 2014


RÉU CONFESSO

(Luz... Porto)


Quisera eu caminhar sobre as águas
Como Cristo indo a Genesaré.
Mas muitas, muitas são as minhas pagas
Nesse mundo sem cabeça nem pé.

Minha caravela logo me afunda
E eu, sem saber nadar,breve sucumbo.
Vem, Jesus, Javé, seja quem for.
Acalma a água, sossega-me a dor

De viver vida vã tão sem sentido
Sem rumo, sem norte, sem um destino
Vazia de sol, de manhã, de fé

Impede-me de maior desatino
Cura logo meu coração ferido
Não faze cumprir o que a Sorte quer.


SHAWSHANK


(Luz... Porto)



Na teia da aranha caí.
Em palpos ferozes me vi.
Presa assim fácil me tornei,
À sedução alheia cedi.

A minha antiga liberdade?
Ai, jamais a recuperei...
Vago insone pela cidade,
Sonâmbula, doida, tão só.

Minha prisão é sol e pó.
Mar, terra, verão ou inverno,
Os fios conduzem o títere.

Mas quem os maneja do inferno?
Eu, mendiga, imploro por víveres
E seco à sombra do igapó.


HARA-KIRI


(Luz.. Porto) 



Com calma e mão trêmulas
Desfaço-me a trama.
Vou fundo na pele,
Atinjo os tecidos

Nobres do plebeu
Que sou desde o berço.
A lâmina fere 
Exata, um punhal

Ardendo em febre. 
Sangue inunda a cama.
Não rezei o terço,
Blasfêmia imoral...

Consumo-me em chama.
A fênix que fui
Perdeu-se nas cinzas.
Meu mundo então rui...