Friday, April 21, 2006




Áquila revisitada
(Luz... Porto)
Junto aos primeiros raios do sol inclemente
Que vem clarear meu quarto
E invadir meu sono,
Arrastando para a luz fria da realidade
Os farrapos de sonho
Que povoaram minha alma,
Ouço um ruflar de asas ao longe.
Asas de pomba, asas de águia, asas de bem-te-vis?
E esse som, cadenciado e insistente,
Mistura-se às formas informes, disformes
De meu inconsciente tão pouco coletivo.
Subitamente sou levada por um Pégaso castanho
Para montes, vales, riachos.
Fundimo-nos qual centauro alado,
De tez clara, cabelos negros e seios de amazona.
Acordo abrupta, interrompida, anjo decaído
Que despencasse do Sétimo Céu de Alah
Ou do fim de um arco-íris sem pote, nem ouro.
Vejo-me novamente só e largada
Em meu leito desarrumado
Onde inda jaz o rastro de teu perfume.
Cortando o horizonte vejo um pássaro
Voando para bem alto, Ícaro insensato.
Sei que vieste te despedir de mim
Pois estamos condenados
A essa fímbria de amor,
A esse amor que só se concretiza
No "in-between" entre o sono e a vigília,
Entre a noite e o dia,
Até que venha algum feiticeiro,
Mago, xamã, alquimista,
Que nos libere da maldição
A que estamos aprisionados por toda a eternidade.